UM FIM DE ANO
DIFERENTE
SUELY BRAGA
Ao chegarmos ao aereoporto de Cusco recebemos um folder alertando para todos os sintomas que iriamos
sentir em virtude da altitude. Dor de cabeça, dores na nuca, náuseas, falta de ar,
opressão no peito. Meus amigos e eu nos dirigimos de táxi para um hotelzinho
modesto no centro da cidade. Os aposentos acanhados. Minha amiga e eu nos
instalamos num pequeno quarto com camas antigas, uma mesinha, uma cadeira e um
gurda-roupa.Meu amigo acomodou-se num quarto, no fim do corredor que não
ofercia mais conforto que o nosso.
Depois de um banho quente para nos
refazermos do frio cortante descemos.
No hall de entrada, no balcão, um senhor
magro e alto nos ofereceu uma garrafa com chá quentinho.
-Isto é chá de coca. É ótimo para vocês
suportarem os efeitos da altitude- falando num espanhol enrolado.
Depois de um copo de chá nos sentimos mais confortáveis.
Saimos para dar um passeio. A cidadezinha
era cortada por ruelas estreitas, em caracóis, com ingrimes elevações.
As
construções fortes de pedras maciças, sem pintura, davam-lhe o aspecto rústico
dos séculos passados. No centro uma pequena praça junto à igreja imponente de
pedras construídas pelos incas, com altares todos de prata.
Àquela hora da tarde, chamou-nos atenção
as índias com suas vestes coloridas, carregando os filhos pequenos às costas
quebravam o cinza daquele dia sombrio. Alguns turistas esparsos admiravam a
arquitetura milenar daquele “pueblo” histórico da cidadezinha de Cusco, no
Peru.
Minha amiga e eu fomos ao mercado de artesanato indígina. Encantamo-nos com a beleza e a variedade de cores das
peças ali expostas.
Aconteceu um fato terrivelmente desagradável.
Minha amiga foi roubada por um pivete, que levou sua carteira e os dólares.
Era trinta e um de dezembro. Retornamos ao
hotel, descansamos e nos preparamos para comemorar a passagem do ano.
A rua principal, em frente à igreja estava
enfeitada.
As
mesas dispostas nas calçadas ocuparam alguns quarteirões. Enfileirados os
fogões improvisados. Os homens de espáduas amplas e mulheres de ancas largas,
olhos negros amendoados, cabelos escuros escorridos,
enfiadas
em suas melhores indumentárias típicas coloridas preparavam as iguarias próprias
para aquela noite.Festejavam e procuravam atrair os turistas, vendendo, cantando
e tocando suas músicas nativas.
O frio era causticante. Nossas mãos
estavam vermelhas e os dedos endurecidos. Estávamos pouco abrigados para aquele
frio enregelante, mas nos misturamos com os demais turistas e indígenas,
festejando a entrada do ano novo.
Tudo nos parecia mágico encantadoramente
estranho.
Era
maravilhoso e uma enorme alegria e emoção tomaram conta de nós, ali misturados
com aquele povo, comendo sua comida e bebendo sua cultura. Depois de
participarmos dos festejos na rua, já não aguentando o frio que nos enregelava
entramos no único restaurante que possuía calefação. Estava repleto de turistas
de todas as partes do mundo. Escolhemos uma mesa perto da janela. Pedimos “tê caliente” e ficamos observando o movimento
e o colorido das ruas. O vai e vem das pessoas dispersas numa liquidificação de
culturas. O burburinho das diferentes línguas ali faladas misturava-se ao som
calmo e aconchegante da música mecânica no restaurante.
Os ponteiros do relógio caminhavam
pachorrentos como o andar daquele povo alegre e vagaroso. O tempo condensado
pelo frio escoava lento.
Voltamos ao hotel na madrugada gelada.
Na manhã seguinte prosseguíamos viagem.
Iriamos de trem a Macho Picho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário