segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

UM ANO NOVO DIRENTE

                            
                         UM FIM DE ANO DIFERENTE
                                                               SUELY BRAGA
                     Ao chegarmos ao aereoporto de Cusco recebemos um folder alertando para todos os sintomas que iriamos sentir em virtude da altitude. Dor de cabeça, dores na nuca, náuseas, falta de ar, opressão no peito. Meus amigos e eu nos dirigimos de táxi para um hotelzinho modesto no centro da cidade. Os aposentos acanhados. Minha amiga e eu nos instalamos num pequeno quarto com camas antigas, uma mesinha, uma cadeira e um gurda-roupa.Meu amigo acomodou-se num quarto, no fim do corredor que não ofercia mais conforto que o nosso.
     Depois de um banho quente para nos refazermos do frio cortante descemos.
    No hall de entrada, no balcão, um senhor magro e alto nos ofereceu uma garrafa com chá quentinho.
      -Isto é chá de coca. É ótimo para vocês suportarem os efeitos da altitude- falando num espanhol enrolado.
 Depois de um copo de chá nos sentimos mais confortáveis.
     Saimos para dar um passeio. A cidadezinha era cortada por ruelas estreitas, em caracóis, com ingrimes elevações.
As construções fortes de pedras maciças, sem pintura, davam-lhe o aspecto rústico dos séculos passados. No centro uma pequena praça junto à igreja imponente de pedras construídas pelos incas, com altares todos de prata.
      Àquela hora da tarde, chamou-nos atenção as índias com suas vestes coloridas, carregando os filhos pequenos às costas quebravam o cinza daquele dia sombrio. Alguns turistas esparsos admiravam a arquitetura milenar daquele “pueblo” histórico da cidadezinha de Cusco, no Peru.
      Minha amiga e eu fomos ao mercado de artesanato indígina. Encantamo-nos com a beleza e a variedade de cores das peças ali expostas.
   Aconteceu um fato terrivelmente desagradável. Minha amiga foi roubada por um pivete, que levou sua carteira e os dólares.
     Era trinta e um de dezembro. Retornamos ao hotel, descansamos e nos preparamos para comemorar a passagem do ano.
     A rua principal, em frente à igreja estava enfeitada.
As mesas dispostas nas calçadas ocuparam alguns quarteirões. Enfileirados os fogões improvisados. Os homens de espáduas amplas e mulheres de ancas largas, olhos negros amendoados, cabelos escuros escorridos,
enfiadas em suas melhores indumentárias típicas coloridas preparavam as iguarias próprias para aquela noite.Festejavam e procuravam atrair os turistas, vendendo, cantando e tocando suas músicas nativas.
      O frio era causticante. Nossas mãos estavam vermelhas e os dedos endurecidos. Estávamos pouco abrigados para aquele frio enregelante, mas nos misturamos com os demais turistas e indígenas, festejando a entrada do ano novo.
   Tudo nos parecia mágico encantadoramente estranho.
Era maravilhoso e uma enorme alegria e emoção tomaram conta de nós, ali misturados com aquele povo, comendo sua comida e bebendo sua cultura. Depois de participarmos dos festejos na rua, já não aguentando o frio que nos enregelava entramos no único restaurante que possuía calefação. Estava repleto de turistas de todas as partes do mundo. Escolhemos uma mesa perto da janela. Pedimos  “tê caliente” e ficamos observando o movimento e o colorido das ruas. O vai e vem das pessoas dispersas numa liquidificação de culturas. O burburinho das diferentes línguas ali faladas misturava-se ao som calmo e aconchegante da música mecânica no restaurante.
   Os ponteiros do relógio caminhavam pachorrentos como o andar daquele povo alegre e vagaroso. O tempo condensado pelo frio escoava lento.
   Voltamos ao hotel na madrugada gelada.
   Na manhã seguinte prosseguíamos viagem. Iriamos de trem a Macho Picho.

                

 

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