CLARA
Clara acordou com o tilintar vibrante do
despertador. Espreguiçou-se sonolenta e deu um salto da cama. Tomou um banho
rápido. Acordou os meninos.Esquentou a água, colocou-a no nescafé.Sorveu alguns
goles,comeu um pedaço de pão dormido com manteiga.Serviu Nescau com leite aos
filhos.Tirou as xícaras da mesa,lavou a louça.
Foi ao quarto, olhou-se no espelho.,
sentiu-se abatida por uma noite mal
dormida, penteou os cabelos já um pouco prateados.Passou baton.
Os ponteiros do relógio correm Mesmo que
acordasse cedo tinha sempre que correr.
Deu um beijo nos filhos, atravessou a sala
em disparada em direção à porta de saída enquanto grita:” meninos, não vão se
atrasar, vão depressa para a escola”.
No caminho aspirou ao aroma das flores,
sugou a beleza da manhã. Percorreu quase correndo as quadras até o terminal do
ônibus e.enfrentou a fila imensa.
Entrou e acomodou-se no acento duro de
fibra Ao seu lado estarrachou-se uma mulher gorda comprimindo-a contra a janela.
Com os olhos cemicerrados tentou cochilar.
O ronco do motor, o
vozerio dos passageiros imprensados no corredor, as freadas bruscas, os
buzinaços impediam-na de dormir. O aluguel atrasado, as contas de luz, água,
telefone, o pagamento do condomínio fervilhavam na sua cabeça como uma panela
de pressão.
O marido desempregado perambulando o dia
inteiro pela cidade só ouvia:”não há vagas”.Desesperado entrando em depressão,
tornando –se agressivo em casa.
Dá o sinal na campainha. Desce na frente
do velho prédio desbotado, as paredes que há longos anos não recebem pintura,
vidros quebrados nas janelas assoalho encharcado nos dias de chuva.
As crianças esperavam-na. Correm ao seu
encontro, abraçam-na entusiasmados. Entra na sala e começa a aula. São trinta e
cinco alunos que falam, interrogam, esperam. Atentos, ou, distraídos, aguardam
suas respostas e explicações.
A sineta soa. As crianças se dispersam. O
beijo da saída e o “até manhã, professora”.
Vai até a cozinha, come um sanduíche que trouxe
na sacola. Tira da geladeira o suco que a merendeira preparou.Vai com passos
apressados até a parada na frente da escola.
O tempo mudou, a temperatura baixou. O
vento fresco começa a soprar. Olha para as gordas nuvens que cobrem quase todo
o ceu.
Põe a sacola no ombro. A sacola cheia de
livros e mais os produtos do Avon. Embarca no ônibus lotado. Espremida entre os
passageiros, sacolejando vai até o fim da linha.
A chuva começa a cair, é uma chuva fina. Caminha
na calçada repleta de pessoas que
caminham apressadas,voltando para casa. Chega ao apartamento 305 para entregar
os produtos.
Passa na padaria para comprar leite e pão.
Entra na fruteira para levar verduras.
Chega em casa.O marido lê o jornal na
frente da televisão. As crianças lêem. Tira os sapatos, atira-se na cama sem
coragem para se despir. O corpo moído,tensa,estressada.Seu corpo, sua mente
estão pedindo férias.Sair, passear, relaxar, longe de tudo e de todos.
Vai preparar o jantar e o almoço, porque
amanhã é outro dia. Vai fazer uma gostosa massa com molho, que todos adoram.
Amanhã continuará a rotina.
SUELY BRAGA
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