A DESPEDIDA
SUELY BRAGA
É tardinha. Mirna caminha na beira da praia, molhando os pés na maré amena, sentindo a areia fofa, deixando seus passos marcados. Aspira o ar puro e o cheiro do mar. Ele está calmo com as ondas encrespando-se com o vento, que sopra leve e contínuo.
Àquela hora, já poucos banhistas retardatários refrescam-se na água um pouco fria.
Mirna não quer encontrar nenhum amigo. Está mergulhada em seus pensamentos, que voam na distância. Veio sozinha passar uns dias no apartamento, em Capão da Canoa. Quer ficar só, deliciando-se com o mar, que sempre a encantou desde menina. O sol vai desaparecendo no horizonte, deixando raios dourados com tons avermelhados. Precisa ficar só, retirada da multidão, para concatenar seus pensamentos e saber que rumo dar à sua vida.
Os filhos cresceram, criaram asas e voaram.
Cheila ganhou uma bolsa de estudos e foi fazer mestrado em Madri. Pedro casou-se e está morando na Bahia. Vinícius viajava muito e ela pintando quadros e dando aulas na Universidade do R.Grande do Sul estava sempre ocupada. O tempo foi ficando escasso para ficarem juntos. Pouco se falavam. Depois que os filhos se afastaram o desencontro entre os dois abalou seu casamento. Quando se encontravam pareciam dois estranhos, já não havia a cumplicidade, o companheirismo. Quando Vinícius chegava das viagens queria descansar. Os cinemas, os teatros, os jantares nos restaurantes preferidos se acabaram.
Mirna não agüentava mais sair sempre sem a sua companhia. Encontrava-se e saia com as amigas, mas não se divertia, sempre distraída pensando nele. O que estará fazendo agora?
Um dia Vinícius chegou muito calado, com uma ruga nos supercílios e parecia preocupado. Perguntei: o que houve meu bem, que estás tão diferente? Algum problema no trabalho? Ele sentou-se no sofá pensativo. Parecia ter algo para me falar e lhe faltava coragem.
Finalmente, levantou-se, deu alguns passos indecisos pela sala e com a voz embargada disse-me:
- Mirna, minha querida, gosto muito de ti, és a mãe de nossos filhos, esposa exemplar, mãe carinhosa, sempre minha companheira e amiga. Admiro muito tuas qualidades e talento, mas a gente não pode mandar no coração. Gaguejando: o fato é que me apai... xo...nei por ou...tra.Ela é carioca.Mora em Ipanema , no Rio. Faz algum tempo que nos co... nhe...ce...mos. Falou, engolindo as palavras: resolvi morar no Rio.
Mirna levou um choque tão grande que caiu sentada na poltrona. Ficou paralisada, sem fala. Olhou para Vinícius que parecia outro homem, frio, indiferente. Não era o mesmo Vinícius, seu companheiro de vinte e dois anos.
Ele tomou um banho, foi ao quarto, preparou a mala, juntou seus pertences, beijou-a no rosto e desapareceu na porta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário